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Os olhos do meu pai

Você provavelmente não sabe, mas quando eu era criança, meus olhos costumavam passar muitas horas à noite esperando encontrar seus olhos novamente. Enquanto esse encontro visual não acontecia, eu costumava passar boa parte das minhas noites olhando o mundo pela janela do meu quarto. Eu costumava ficar de olho nos carros que passavam com seus faróis circulares iluminando não apenas a escuridão da rua, mas também a escuridão da minha vida. Eu costumava ver as pessoas voltando para suas casas depois de um dia inteiro de trabalho. Cansaço e frustração estavam estampados em seus rostos. Voltar para casa e descansar algumas horas era a recompensa estúpida para quem tinha acabado de vender 10 horas de seu dia pelo progresso econômico. Eu também costumava ver casais passeando na frente do meu prédio, de mãos dadas. Certamente, eles estavam fazendo planos para uma vida melhor, considerando casamento, bebês, um novo empréstimo para uma casa, um carro novo, todas essas coisas que nos permitem ter essa vida “feliz”.

Eu costumava passar horas vendo todo tipo de situação, mas você sempre demorava muito para chegar. Eu esperava por você todas as noites. Às vezes por horas, às vezes por dias. Mas eu nunca esperei por você em vão. Quando eu te via andando pela Rua Herculano de Freitas, quando você aparecia no meu enquadramento, quando o portão eletrônico apitava, eu gritava seu nome para avisar a toda a população da Terra que a felicidade finalmente chegou na minha vida. Viver não seria divertido sem aquele momento. Ver você chegar era uma recompensa mais do que merecida para uma menina de 7 anos que andava silenciosamente pelo mundo.

Eu costumava passar muitas horas à noite olhando para a rua esperando o momento de ver seus olhos olhando para os meus. Como era bom receber tanto carinho em um olhar. Seus olhos foram os únicos capazes de curar minhas feridas. Eles foram os únicos capazes de restaurar minha alma. Foram seus olhos, finalmente, que me fizeram forte.